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Artigo: Presente e futuro da inteligência artificial na Auditoria Independente

6 de julho de 2023

Por Márcio Santos*

Muito tem se falado sobre os chatbots que utilizam Inteligência Artificial (IA), principalmente pela simplicidade na operacionalização e a rapidez com que entregam as respostas de uma forma bem estruturada e eloquente. Desde perguntas simples até questões mais complexas são respondidas em forma de texto com uma naturalidade e fluência que se esperaria de uma compilação feita por humanos.

Mais recentemente os chats inteligentes, que utilizam o método de NLP – Natural Language Process (processamento de linguagem natural), têm apresentado alternativas quase infinitas para a utilização, gerando eficiência operacional ao passo que garantem consistência na tratativa dos assuntos contábeis e de auditoria.

Contudo, a ferramenta traz também algumas dúvidas e desafios sobre os benefícios e riscos que envolvem seu uso. Um deles é a possibilidade de substituição de mão de obra por sistemas e controles totalmente automatizados sem necessidade de supervisão humana.

Será que vamos precisar mudar os caminhos da formação acadêmica para garantir a empregabilidade e uma nova visão de carreira? Estudo recente, publicado por pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, estima que até 80% da força de trabalho nos Estados Unidos terão ao menos 10% de suas tarefas afetadas pela IA.

Outras questões éticas e de conteúdo também surgem: a possibilidade desses chatbots eventualmente gerarem textos convincentes com informações falsas, o que pode contribuir para disseminação de fake news e serem utilizados por agentes mal-intencionados. As informações geradas por esses tipos de Inteligência Artificial são tão concludentes, que muitos usuários podem ser levados a acreditar no conteúdo sem refletir sobre sua veracidade.

Diante disso, surgem mais algumas questões que precisam ser levadas em consideração: precisamos ter uma regulamentação para que a biblioteca de dados dessas ferramentas seja validada e homologada? Qual o impacto, e as responsabilidades, dos governos nessa regulamentação?

Tantas são as preocupações, que o Instituto Future of Life colheu mais de 27 mil assinaturas, dentre pesquisadores, empresários e pessoas influentes do mundo da tecnologia, solicitando que os desenvolvedores parem de criar mecanismos de IA por seis meses.

Esta pausa seria necessária para que se conheça as consequências do uso dessa tecnologia em toda a sociedade, além de propor e implementar protocolos e sistemas de governança robustos para garantir a segurança e que os efeitos do uso da IA sejam positivos e, seus riscos, gerenciáveis.

Na auditoria, por exemplo, a facilidade em se obter dados por meio da criação de programas seguros e ágeis caminha para possibilitar uma análise mais rigorosa, com uma maior abrangência dos testes e em um tempo reduzido.

É preciso ter em mente, porém, que, apesar de poderosa, a tecnologia é apenas mais uma ferramenta à disposição do auditor, que tem nas pessoas o seu pilar fundamental como capital humano. Por meio de toda a formação acadêmica, desenvolvimento profissional continuado e experiência, a auditoria deve utilizá-la como aliada para aprimorar e aguçar o julgamento do profissional, com base no ceticismo e na ética, que é compartilhada com toda a profissão contábil.

Na última revisão do Código Internacional de Ética para Profissionais da Contabilidade emitido pelo International Ethics Standards Board for Accountants (IESBA) e adotado no Brasil através das normas emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), inclusive, é expresso que a objetividade do profissional não deve ser comprometida por influência da tecnologia.

Utilizadas de modo responsável, as novas tecnologias devem ser encaradas como oportunidades. Ao longo dos anos, a auditoria tem, de forma crescente, se beneficiado do uso de ferramentas automatizadas, que permitem ao auditor empregar seu tempo e conhecimento em tarefas mais complexas e que exijam mais de todo seu conhecimento e expertise.

Por isso, é importante conhecer e se manter atualizado com o uso das tecnologias e também reconhecer seus limites. Afinal, apesar do uso da tecnologia ser um diferencial benéfico para as atividades que envolvem a profissão, a responsabilidade e o peso da opinião, que depende do julgamento e ceticismo profissional humano, é indelegável a ferramentas automatizadas. Com isso, fica cada vez mais evidente que à medida que as tecnologias se desenvolvem, o fator humano torna-se cada mais indispensável.

*Márcio Santos – É líder do Comitê de Tecnologia e Inovação do Ibracon (Instituto de Auditoria Independente do Brasil) e sócio de Estratégia e Transformação de Auditoria, com mais de 25 anos de experiência