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Artigo: A credibilidade das informações ESG é uma missão fundamental para os profissional da Contabilidade

21 de fevereiro de 2022

Por Francisco Sant’Anna

No mês passado, uma grande parcela do mundo estava imersa no acompanhamento da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Glasgow (COP26) – indiscutivelmente, um dos eventos globais mais importantes de 2021. A conclusão da COP 26 viu um pacote de ações adotado que tem por objetivo aumentar a transparência do progresso dos signatários para redução das emissões de carbono, incluindo rastreamento e relatórios sobre suas Contribuições Nacionalmente Determinadas. Na COP 26, vimos também as percepções do público sobre a desconfiança das instituições privadas quanto aos seus esforços e ações reais para reduzir as emissões de carbono, bem como novos compromissos públicos de grandes corporações em relação ao seu papel no tratamento das mudanças climáticas e dos efeitos globais. Esses compromissos inevitavelmente levarão a novos componentes na preparação das declarações e relatórios de divulgação das empresas e à responsabilidade de seus órgãos de governança, dadas as preocupações urgentes do público quanto à transparência. Além disso, a expectativa dos investidores está mudando para exigir mais informações comparáveis sobre o impacto social e ambiental de uma empresa em seus relatórios.

Informações e relatórios de práticas Ambientais, Sociais e de Governança Corporativa (ESG, na signa em inglês) comparáveis são um componente-chave para abordar com sucesso as mudanças climáticas e devem ter o mesmo rigor e qualidade técnica dos relatórios financeiros obrigatórios. Isso exigirá um esforço mais amplo para padronizar a forma como as empresas contabilizam seu impacto ambiental e social; por sua vez, dando início a uma era de relatórios comparáveis obrigatórios, auditoria e asseguração. O anúncio do Conselho de Normas Internacionais de Sustentabilidade (ISSB) é um grande passo no avanço das divulgações relacionadas aos impactos sociais e ambientais, que atualmente são voluntários, vagos e sem comparabilidade.

Os relatórios ESG não terão apenas impactos sobre as empresas, mas também sobre os auditores independentes. Sua função de garantir a qualidade das informações ESG das empresas auditadas aos investidores, stakeholders e reguladores ganha um significado novo e muito importante como parte da luta contra as mudanças climáticas e é uma das formas pelas quais as empresas serão responsabilizadas por seus compromissos.

Portanto, é importante que as firmas de auditoria independente, profissionais de contabilidade e suas organizações de contabilidade se engajem de maneira ativa e resoluta neste novo e crucial desafio que nossa profissão enfrenta. Nesse sentido, é importante reiterar o apelo feito pela Federação Internacional de Contadores (IFAC) a todas as suas organizações membros para apoiar a iniciativa de transformar novas normas globais em requisitos de relatórios locais, com informações ESG consistentes e comparáveis.

A profissão de contabilidade em todo o mundo possui as competências e conhecimento adequados para cumprir esta missão e deve assumir imediatamente um papel de liderança na discussão, compreensão e estabelecimento de diretrizes para a qualidade, padronização e confiabilidade das divulgações ESG das empresas, bem como na auditoria independente dessas informações em suas respectivas jurisdições. É fundamental que sejamos protagonistas no seguinte:

• monitorar, participar e apoiar a Fundação IFRS no processo de definição de normas do Conselho de Normas Internacionais de Sustentabilidade (ISSB);

• apoiar as ações da Federação Internacional de Contadores (IFAC) relacionadas às normas emitidas pelo ISSB;

• apoiar as Organizações Profissionais de Contabilidade em todo o mundo, que devem atuar tempestivamente na tradução das normas estabelecidas pelo ISSB, bem como nas iniciativas de treinamento e disseminação;

• promover o forte compromisso ético da profissão que é fundamental no âmbito do tema ESG (por exemplo, apontar o greenwashing) e demonstrar como a profissão continua trabalhando no interesse público.

Os profissionais da Contabilidade também podem contribuir de forma significativa e específica para o processo de engajamento das empresas em seus desafios relacionados às mudanças climáticas, por meio das seguintes etapas:

1. Promover uma reflexão interna nas suas empresas sobre este importante tema, visto que este tipo de relatório será cada vez mais demandado por investidores, reguladores, agências de rating, seguradoras e consumidores;

2. Engajar líderes, pois esse processo exigirá mudanças importantes dentro da organização em torno de modelos de negócios, processos de produção e tecnologia;

3. Antes de iniciar qualquer processo novo, as empresas devem realizar, com o auxílio e aconselhamento de seus contadores, um inventário e uma análise minuciosa a respeito de seus objetivos ESG, lacunas e custos;

4. Com todas as informações necessárias em mãos, pode-se iniciar o planejamento e o desenvolvimento dos projetos – incluindo custos e oportunidades, riscos e metas para aprovação;

5. Por fim, a contribuição do contador profissional para comunicar esses desenvolvimentos será essencial. A comunicação interna dentro das empresas será necessária para o envolvimento e adesão de seus funcionários, e a comunicação externa com o mercado para mostrar o apoio às novas normas globais.

Considerando que o engajamento das empresas é fundamental para o sucesso da meta – reiterada na COP 26 – de limitar o aquecimento a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, a missão dos profissionais da Contabilidade é muito clara. Nosso trabalho relacionado às ações ambientais e de sustentabilidade significa uma grande responsabilidade para com toda a sociedade global.

Francisco Sant’Anna é Presidente do Conselho de Administração do Ibracon – Instituto de Auditoria Independente do Brasil.